23 de jul 2025
Calor extremo em Paraisópolis evidencia desigualdade e injustiça ambiental
Paraisópolis enfrenta temperaturas até 8°C mais altas que Morumbi, agravando problemas de saúde e abastecimento de água.

Estudo mostrou que Paraisópolis pode ter temperatura até 8ºC mais alta que Morumbi, bairro vizinho (Foto: André Porto/UOL)
Ouvir a notícia:
Calor extremo em Paraisópolis evidencia desigualdade e injustiça ambiental
Ouvir a notícia
Calor extremo em Paraisópolis evidencia desigualdade e injustiça ambiental - Calor extremo em Paraisópolis evidencia desigualdade e injustiça ambiental
A comunidade de Paraisópolis, em São Paulo, enfrenta um cenário alarmante de aquecimento. Recentes medições indicam uma diferença de até 8°C em relação ao vizinho Morumbi, evidenciando o fenômeno das ilhas de calor. O aumento das temperaturas, que já ultrapassam 33°C em Paraisópolis, é um reflexo do aquecimento global e da urbanização desordenada.
Ivaneide Gonçalves da Silva, moradora há 26 anos, relata que o calor intenso a obriga a recorrer a ventiladores e banhos frequentes. "Quando cheguei aqui era muito bom, eu adoro o frio. Agora não tem mais isso", afirma. O pesquisador Gustavo Paixão alerta que um aumento de 1,5°C na média global pode resultar em 5°C a mais na comunidade.
Estudos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie confirmam a diferença de temperatura, levantando questões sobre o planejamento urbano. O professor Renato Anelli, envolvido na pesquisa, destaca a importância de entender se essa discrepância é um padrão. Além do calor, a comunidade enfrenta problemas de abastecimento de água, que se agravaram durante a pandemia.
Bruna Tomás, outra moradora, menciona que a falta de água já impediu sua filha de levar o neto ao médico. A Sabesp, responsável pelo abastecimento, reconhece a necessidade de melhorias e afirma estar investindo em obras na região. No entanto, moradores temem que a situação se agrave com o retorno das altas temperaturas.
Impactos na Saúde
O calor extremo pode intensificar doenças crônicas, como hipertensão e diabetes. O pesquisador da Fiocruz, Christovam Barcellos, ressalta que a exposição a temperaturas acima de 36°C pode levar à desidratação e choque térmico. Especialistas alertam que crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas são mais vulneráveis a esses efeitos.
Elizandra Cerqueira, empreendedora social, observa a diferença entre Paraisópolis e Morumbi: "Ali tem mais verde, sombra, brisa. Aqui parece um caldeirão fervendo." A falta de áreas verdes contribui para o superaquecimento, e a cobertura vegetal é apontada como uma solução eficaz. Marcel Fantin, da USP, afirma que um bairro precisa de pelo menos 30% de vegetação para combater ilhas de calor.
Desafios Urbanos
A urbanização excessiva e a falta de planejamento agravam o problema. Anelli defende a ampliação da Operação Altas Temperaturas, que oferece sombra e água, e sugere repensar o urbanismo com materiais que absorvam menos calor. A preservação de áreas verdes em Morumbi também é crucial, já que demolições e impermeabilização do solo podem aumentar a temperatura local.
Os especialistas concordam que a desigualdade ambiental é evidente na fronteira entre Paraisópolis e Morumbi. As mudanças climáticas afetam desproporcionalmente as comunidades mais vulneráveis, como Paraisópolis, que é uma das várias ilhas de calor em áreas menos favorecidas da cidade.
Perguntas Relacionadas
Comentários
Os comentários não representam a opinião do Portal Tela;
a responsabilidade é do autor da mensagem.