Malária silenciosa ameaça esforços de eliminação da doença no Brasil
Estudos revelam que a malária assintomática em áreas urbanas da Amazônia pode comprometer o controle da doença e exigir novas abordagens diagnósticas
Mais de 2.700 moradores da área urbana de Mâncio Lima (AC) foram acompanhados ao longo de vários anos. Os testes de PCR detectaram até dez vezes mais infecções do que a microscopia tradicional e mais de 90% eram assintomáticas (Foto: James Gathany/Pixnio)
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Malária Assintomática em Áreas Urbanas da Amazônia
Pesquisas recentes do professor Marcelo Urbano Ferreira, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), revelam que a maioria das infecções por malária em áreas urbanas da Amazônia é assintomática e não detectada. Os estudos foram realizados em Mâncio Lima e Vila Assis Brasil, no Acre, regiões com alta incidência da doença.
Os dados indicam que, em contextos de baixa transmissão, a detecção de parasitas por microscopia se torna cada vez mais difícil. Ferreira destaca que a redução da transmissão não significa o fim do problema, pois pode ocultar um reservatório de infecções que sustenta a transmissão local. A pesquisa envolveu mais de 2.700 moradores, com testes de PCR identificando até dez vezes mais infecções do que a microscopia tradicional.
Estratégias de Vigilância
Diante desse cenário, Mâncio Lima começou a implementar a busca ativa-reativa, uma estratégia recomendada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Essa abordagem consiste em visitar residências de pessoas diagnosticadas com malária para testar familiares e vizinhos, mesmo assintomáticos. A metodologia foi associada à redução sustentada dos casos notificados no município.
Além disso, a pesquisa revelou que, mesmo com densidades parasitárias semelhantes, a chance de um exame microscópico identificar o parasita caiu ao longo dos anos. Isso torna a detecção e o tratamento mais desafiadores. Os pesquisadores também mapearam a diversidade genética dos parasitas, que circulam entre áreas urbanas e rurais, aumentando o risco de reintrodução da doença.
Desafios da Vigilância
Outro estudo focado em Vila Assis Brasil mostrou que, mesmo após a aplicação de larvicidas, os índices de infecção detectados por métodos moleculares caíram menos do que os casos clínicos. Isso sugere que a população pode tolerar cargas mais altas de parasitas sem desenvolver sintomas, complicando a vigilância baseada em sintomas.
Um terceiro estudo em andamento investiga por que a malária persiste em contextos de baixa transmissão. Os resultados indicam que cerca de 20% da população concentra até 80% das infecções por Plasmodium vivax, um padrão conhecido como princípio de Pareto. Esses indivíduos, mais suscetíveis, tornam-se portadores assintomáticos, mantendo a transmissão ativa.
Os pesquisadores enfatizam a necessidade de incorporar tecnologias moleculares no diagnóstico da malária e de redesenhar estratégias de vigilância que não dependam apenas da manifestação clínica. Para que o Brasil alcance a meta de eliminação da malária até 2035, será essencial investir em novos métodos de diagnóstico e em ações direcionadas a populações vulneráveis.
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