18 de jul 2025
País enfrenta crise de armazenamento com safra recorde de grãos em 2023
Brasil enfrenta déficit crítico de armazenamento de grãos, com 124,3 milhões de toneladas expostas na maior safra da história.

Falta de investimentos em armazéns pode atrapalhar a vocação do Brasil de ser o celeiro do mundo, dizem especialistas (Foto: Marcio Fernandes/MARCIO FERNANDES)
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O Brasil está prestes a colher 336,1 milhões de toneladas de grãos, a maior safra da história, mas enfrenta um grave problema de armazenamento. A capacidade total dos armazéns é de apenas 212,6 milhões de toneladas, deixando 124,3 milhões expostas a intempéries. A situação é crítica, especialmente nas novas fronteiras agrícolas, como o Matopiba.
A Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA) alerta que a produção de grãos cresce em média 5,3% ao ano, enquanto a capacidade de armazenamento avança apenas 3,4%. Em 2005, o Brasil colheu 114,7 milhões de toneladas e armazenou 106,5 milhões. Em 2023, apenas 63,3% dos grãos colhidos têm armazém garantido, e esse percentual cai para 16,8% se considerados apenas os silos nas propriedades.
A falta de armazéns pode comprometer a posição do Brasil como celeiro do mundo. A Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) recomenda que a capacidade de armazenamento deve ser 1,2 vezes maior que a produção anual. Para esta safra, o Brasil deveria ter armazéns para mais de 400 milhões de toneladas.
Desafios na Armazenagem
A sequência das safras agrava o problema. A colheita de milho ocorre logo após a soja, ocupando os espaços nos armazéns. Paulo Bertolini, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho), destaca que o milho, com valor inferior, acaba sendo exposto. Isso gera um ciclo vicioso: a pressão de venda resulta em queda de preços e aumento dos custos de frete.
A situação é ainda mais crítica em regiões como o Maranhão, onde apenas 46,4% da produção conta com silos. Em Rondônia, a capacidade de armazenamento é de apenas 23,8% da produção. No Mato Grosso, maior produtor do país, a capacidade é de 52,3 milhões para uma produção de 104,8 milhões de toneladas.
Soluções e Investimentos
A CNA aponta que 72,7% dos produtores estão dispostos a investir em armazenagem se as taxas de juros forem mais atrativas. Atualmente, as taxas variam entre 7% e 8,5%, o que é considerado alto. Além disso, a falta de mão de obra qualificada e os altos custos operacionais dificultam a construção de novos silos.
O Plano Safra 2024/25 destinou R$ 7,8 bilhões para a construção e ampliação de armazéns, mas apenas uma parte desse valor está acessível aos produtores. Alexandre Nepomuceno, da Embrapa Soja, ressalta que o déficit de armazéns é crítico, especialmente com os avanços em biotecnologia que prometem aumentar a produtividade.
A solução temporária tem sido o uso de silos-bolsa, mas essa prática não garante o controle adequado de umidade e pragas. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) informou que os financiamentos do BNDES para armazenagem alcançaram R$ 2,6 bilhões nesta safra, o maior valor desde 2013.
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