BC adota estratégia para controlar expectativas sobre juros no mercado

O Banco Central (BC) mantém a taxa Selic em 15% ao ano, o maior patamar em 19 anos, em um cenário de inflação moderada e crescimento econômico contido. Gestores de fundos de investimento afirmam que o tom pessimista adotado pelo BC visa evitar que o mercado antecipe cortes na taxa de juros.

Gabriel Galípolo, presidente do BC, teria revelado a gestores que essa estratégia é uma forma de "esconder o jogo". O objetivo é garantir que o mercado não comece a precificar cortes antes do tempo, o que poderia comprometer a eficácia da política monetária atual. "Se o BC não sinalizar que o juro vai ficar alto por um tempo longo, a curva de juros começa a precificar queda", explica Fernando Siqueira, chefe de análise da Eleven Financial.

Apesar de uma leve melhora na inflação e sinais de crescimento, o Comitê de Política Monetária (Copom) mantém um tom cauteloso em suas comunicações. Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, destaca que a recente política tarifária dos EUA pode impactar a inflação no Brasil, aumentando a oferta interna de produtos. Isso, segundo ele, poderia levar o mercado a discutir cortes de juros mais cedo.

Comunicação Estratégica

Caio Megale, economista-chefe da XP, observa que o BC tem se esforçado para não transmitir sinais otimistas. O tom severo do Copom contrasta com a leve melhora do cenário econômico, o que sugere uma intenção de evitar que o mercado "se empolgue" com a possibilidade de cortes. "Eles estão sempre segurando a onda para que ninguém ache que vai ter um corte de juros antecipado", afirma Megale.

O BC, portanto, continua a adotar uma postura firme em suas comunicações, buscando controlar as expectativas do mercado e garantir que a política monetária mantenha sua eficácia em um ambiente econômico incerto.