- Os povos indígenas do rio Negro, como os Tariano e Tuyuka, enfrentam desafios históricos agravados pela introdução do capitalismo e pela valorização de alimentos ultraprocessados.
- O programa Bolsa Família gerou a necessidade de deslocamento para centros urbanos, aumentando gastos e alterando relações sociais.
- Almerinda Ramos de Lima, ex-presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, afirma que o programa deve respeitar as especificidades culturais.
- A diversidade agrícola, especialmente em relação à mandioca, está ameaçada, com o primeiro caso de vassoura-de-bruxa registrado em terras indígenas em 2023.
- A presença de missões religiosas desde o início do século XX resultou na perda de idiomas e tradições, conforme Bráz de Oliveira França, ex-presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro.
Os povos indígenas do rio Negro, como os Tariano e Tuyuka, enfrentam desafios históricos que se intensificam com a introdução do capitalismo e a valorização de alimentos ultraprocessados. A chegada de novas tecnologias, como a internet, tem impactado negativamente as práticas agrícolas e culturais tradicionais, gerando preocupações sobre a preservação da identidade.
Recentemente, a influência do capitalismo tem alterado as dinâmicas sociais nas comunidades. O Bolsa Família, por exemplo, trouxe a necessidade de deslocamento até os centros urbanos, o que gera gastos altos e modifica as relações sociais. Almerinda Ramos de Lima, ex-presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, destaca que o programa deveria respeitar as especificidades culturais. A busca por dinheiro e a hierarquização da “comida de branco” têm levado ao aumento do consumo de produtos ultraprocessados, prejudicando a dieta tradicional.
Além disso, a diversidade agrícola, especialmente em relação à mandioca, está ameaçada. Em 2023, foi registrado o primeiro caso de vassoura-de-bruxa em terras indígenas, uma doença que pode devastar a cultura da mandioca. Almerinda, que mantém uma dezena de roças, ressalta a importância da diversidade de cultivos, que é vital para a segurança alimentar da comunidade.
A presença de missões religiosas, que começou no início do século XX, também deixou marcas profundas. Embora tenham contribuído para a proteção dos indígenas contra a exploração, impuseram modos de vida que resultaram na perda de idiomas e tradições. Bráz de Oliveira França, um dos primeiros presidentes da Foirn, menciona que a imposição de um novo modo de vida levou ao etnocídio cultural.
A resistência dos povos indígenas é visível na busca por manter suas práticas agrícolas e culturais. Leôncio Neri Bosco, morador de Acaricuara, expressa preocupação com a perda de conhecimentos tradicionais, como o cultivo da mandioca. A nova geração, embora conectada, enfrenta o desafio de equilibrar a modernidade com a preservação de suas raízes culturais.