- A reconstrução da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, está associada ao aumento do desmatamento e da poluição em Manaus, segundo pesquisas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e universidades.
- Um estudo publicado na revista Discover Sustainability aponta que a fumaça em Manaus em outubro de 2023 é resultado do desmatamento nas proximidades da rodovia.
- A concentração de material particulado PM2.5 em Manaus atingiu 314,99 microgramas por metro cúbico, 20 vezes acima do limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
- A pesquisa prevê que a abertura de novas vias a partir da BR-319 pode levar ao desmatamento de 5,78 milhões de hectares até 2070.
- A rodovia pode impactar 63 terras indígenas e mais de 18 mil indígenas, comprometendo a meta de desmatamento zero do Brasil.
A reconstrução da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, está associada ao aumento do desmatamento e da poluição em Manaus, conforme revelam pesquisas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e universidades. O estudo, publicado na revista Discover Sustainability, indica que a fumaça que cobriu a capital amazonense em outubro de 2023 é resultado do desmatamento em áreas próximas à rodovia.
Os pesquisadores identificaram que a concentração de material particulado PM2.5 em Manaus atingiu 314,99 µg/m³, um valor 20 vezes superior ao limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A pesquisa também aponta que a abertura de novas vias a partir da BR-319 pode resultar no desmatamento de 5,78 milhões de hectares até 2070.
Impactos Ambientais
Os incêndios florestais, exacerbados por uma seca extrema na Amazônia, são atribuídos à combinação do fenômeno El Niño e do dipolo do Atlântico, que reduzem a umidade na região. Philip Fearnside, pesquisador do Inpa, destaca que a fumaça não se origina do Pará, mas sim de áreas ao redor de Manaus. Dados meteorológicos confirmam que a pluma de fumaça se formou na região sul da cidade.
A pesquisa “Modeling the impact of planned highways on deforestation and illegal land occupation” analisa dois cenários: um com a BR-319 recuperada, que acelera o desmatamento, e outro sem a recuperação, onde o desmatamento se mantém estável. A rodovia, com 885 km de extensão, representa uma ameaça à biodiversidade e à estabilidade climática, afetando também comunidades indígenas.
Consequências Sociais e Econômicas
A BR-319 pode impactar 63 terras indígenas e mais de 18 mil indígenas. Aurora Miho Yanai, do Inpa, afirma que a reconstrução da rodovia é inviável e compromete a meta de desmatamento zero do Brasil. Os pesquisadores sugerem priorizar alternativas de baixo impacto, como a melhoria das vias navegáveis, e implementar políticas integradas para combater a degradação ambiental.
A rodovia, construída em 1976, foi abandonada na década de 1990, mas ganhou prioridade durante o governo de Jair Bolsonaro, com o objetivo de conectar áreas produtivas a portos. A proposta, no entanto, levanta preocupações sobre o aumento de incêndios e desmatamentos ilegais, além de potencializar a liberação de novos patógenos que podem afetar a saúde global.