- A demência afeta mais de 55 milhões de pessoas no mundo, com previsão de aumento para 139 milhões até 2050, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
- O Brasil enfrenta um envelhecimento populacional acelerado, necessitando de novos modelos de cuidado.
- Durante o Congresso Brain 2024, Teun Toebes e Jonathan de Jong enfatizaram a importância de ouvir as preferências de pessoas com demência sobre seus cuidados.
- Toebes criticou o modelo de instituições de longa permanência e defendeu um enfoque centrado na pessoa, priorizando a qualidade de vida.
- Especialistas sugerem alternativas como centros-dia e suporte domiciliar para promover a inclusão social e evitar o isolamento.
A demência é uma condição crescente que afeta mais de 55 milhões de pessoas no mundo, com a Organização Mundial da Saúde (OMS) prevendo que esse número chegue a 139 milhões até 2050. No Brasil, o envelhecimento acelerado da população exige novos modelos de cuidado. Durante o Congresso Brain 2024, realizado no Rio de Janeiro, o ativista holandês Teun Toebes e o diretor Jonathan de Jong discutiram a importância de ouvir as preferências de pessoas com demência sobre seus cuidados.
Toebes, que já visitou 11 países para entender a vida de pessoas com demência, questionou o modelo de instituições de cuidados de longa duração, comuns em países europeus. Ele defendeu um enfoque centrado na pessoa, ressaltando que a qualidade de vida deve ser a prioridade. Para ele, é essencial que as pessoas com demência sejam ouvidas sobre onde desejam viver e receber cuidados.
O geriatra João Carlos Barbosa Machado, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, complementou que a conexão social é fundamental. “Precisamos estabelecer conexões com as pessoas”, afirmou. Especialistas presentes no congresso concordaram que os cuidados devem ser centrados no paciente, levando em conta suas habilidades e preferências.
Modelos de Cuidado
No Brasil, os cuidados para idosos com demência ainda são predominantemente familiares e em lares mistos. Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) públicas acolhem cerca de 69 mil idosos, mas muitas enfrentam condições precárias. O governo federal reconhece que a oferta de cuidados não atende equitativamente a população, sobrecarregando principalmente as mulheres, que dedicam mais tempo a essas atividades.
O conceito de “ILPI-ismo”, apresentado por Machado, refere-se à aversão a essas instituições, que muitas vezes são mal compreendidas. “Não podemos ser contra coisas que não conhecemos”, disse ele. A discussão sobre como melhorar essas instituições é crucial, especialmente à medida que a população envelhece e as famílias se tornam menores.
Alternativas e Inovações
Especialistas sugerem que o Brasil deve buscar soluções que respeitem sua cultura, evitando a simples cópia de modelos europeus. Toebes destacou que o senso de comunidade no Brasil é um ativo valioso. Ele propôs que, ao invés de criar guetos para pessoas com demência, deve-se promover a inclusão social.
Iniciativas como centros-dia e suporte domiciliar, onde cuidadores entram nas casas para ajudar, são alternativas que podem ser exploradas. Esses modelos visam dividir responsabilidades e evitar o isolamento social. No entanto, ainda há uma escassez de unidades específicas para acolher pessoas com demência, refletindo a necessidade de um debate mais amplo sobre o futuro dos cuidados no Brasil.