- A realização de exames preventivos, como papanicolau e mamografias, no Brasil caiu significativamente após a pandemia de covid-19.
- Dados de 2023 mostram que a taxa de mamografias é de 59,8%, comparada a 66,7% em 2017, enquanto o papanicolau caiu de 87% para 78,9%.
- Especialistas alertam que a falta de conscientização e a desigualdade no acesso aos exames são preocupantes, com apenas 43,2% das mulheres na região Norte realizando mamografias em 2019.
- A presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Angélica Nogueira, destaca que o câncer pode se tornar a principal causa de morte no Brasil até 2030.
- A gerente de investimento social da Umane, Evelyn Santos, sugere uma abordagem ativa para aumentar a cobertura dos exames, semelhante às campanhas de vacinação.
Cinco anos após o início da pandemia de covid-19, a realização de exames preventivos como papanicolau e mamografias no Brasil ainda não se recuperou aos níveis anteriores. Dados do Observatório da Saúde Pública, da Umane, revelam que a taxa de mamografias caiu de 66,7% em 2017 para 59,8% em 2023, enquanto o papanicolau teve uma redução de 87% para 78,9% no mesmo período. Essa queda é alarmante, considerando que esses exames são cruciais para a detecção precoce de cânceres que, juntos, causam mais de 25 mil mortes anuais entre mulheres no país.
Especialistas apontam que a pandemia desviou a atenção para doenças de curto prazo, como a covid-19, e que a conscientização sobre a importância dos exames preventivos nunca foi robusta no Brasil. Angélica Nogueira, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), destaca que a falta de uma cultura de rastreamento e os problemas de acesso são fatores que agravam a situação. “O câncer será a principal causa de morte entre brasileiros em 2030”, alerta Nogueira, enfatizando a urgência de políticas públicas que ampliem o acesso a esses exames.
Além disso, a desigualdade regional é um fator crítico. Em 2019, apenas 43,2% das mulheres na região Norte realizaram mamografias, em comparação com 65,2% no Sudeste. Para reverter essa tendência, Evelyn Santos, gerente de investimento social da Umane, sugere uma abordagem de busca ativa, semelhante à que é utilizada em campanhas de vacinação. “O sistema de saúde deve ir atrás das mulheres na faixa etária indicada para facilitar o acesso aos exames,” afirma.
Enquanto isso, outros exames, como a colonoscopia, mostraram recuperação, com um aumento de 65,5% entre 2019 e 2024. Essa recuperação é atribuída à maior disponibilidade de equipamentos e profissionais. Contudo, a falta de campanhas de conscientização e a percepção de que o papanicolau é desnecessário ainda impedem que muitas mulheres realizem o exame. Cerca de 45% das mulheres que nunca fizeram o papanicolau acreditam que ele não é necessário, e 20,6% nunca foram orientadas a realizá-lo.
A necessidade de uma abordagem mais eficaz e integrada para a saúde preventiva é evidente. “O SUS também conta com uma vacina contra HPV, principal causador do câncer do colo do útero,” lembra Evelyn, ressaltando a importância de unir esforços para aumentar a cobertura e a conscientização sobre esses exames vitais.