- Um estudo publicado na revista Science revelou adaptações genéticas no povo Turkana, do Quênia.
- A pesquisa analisou 367 genomas e identificou mais de 7 milhões de variantes genéticas, destacando o gene STC1, que auxilia na desidratação e no processamento de alimentos ricos em purina.
- Apesar do alto consumo de purinas, como carne e sangue, os Turkana raramente apresentam doenças como gota.
- O estudo alerta para riscos de saúde em áreas urbanas, como hipertensão e obesidade, devido ao descompasso evolutivo.
- A pesquisa envolveu quase uma década de diálogo com a comunidade e resultará em um podcast em idioma Turkana e recomendações práticas de saúde.
Um estudo publicado na revista *Science* revelou que o povo Turkana, do norte do Quênia, desenvolveu adaptações genéticas que o ajudam a sobreviver em uma das regiões mais áridas do mundo. A pesquisa, realizada por cientistas africanos e americanos, analisou 367 genomas completos e identificou mais de 7 milhões de variantes genéticas. Entre os principais achados, destaca-se o gene STC1, que está associado à desidratação e ao processamento de alimentos ricos em purina, como carne e sangue, que compõem a dieta da comunidade.
Apesar do alto consumo de purinas, os Turkana raramente apresentam doenças como a gota. Cerca de 90% das pessoas avaliadas estavam desidratadas, mas, em geral, saudáveis, segundo Julien Ayroles, da Universidade da Califórnia, Berkeley. As adaptações genéticas dos Turkana surgiram há aproximadamente 5 mil anos, em resposta a um processo de aridificação na região. Atualmente, entre 70% e 80% da dieta desse povo é baseada em fontes animais, devido à escassez de água e vegetação que inviabiliza a agricultura.
Desafios Urbanos
O estudo também alerta para o fenômeno do descompasso evolutivo. Ao migrar para áreas urbanas, os Turkana enfrentam novos riscos de saúde, como hipertensão e obesidade, uma vez que as adaptações que antes eram vantajosas se tornaram problemáticas em ambientes diferentes. O projeto de pesquisa envolveu quase uma década de diálogo com a comunidade, integrando genética, ecologia e antropologia.
Os pesquisadores se reuniram com anciãos e moradores em conversas noturnas ao redor da fogueira para discutir saúde e mudanças no estilo de vida. Como parte da devolutiva, a equipe lançará um podcast em idioma Turkana e recomendações práticas de saúde. Outros povos pastoris da África Oriental, como Rendille, Samburu e Borana, podem apresentar adaptações semelhantes. A descoberta enriquece a compreensão de como o clima molda a evolução e a saúde humanas, conclui Dino Martins, diretor do Instituto da Bacia de Turkana.