31 de jul 2025
Nunca na idade certa: como o preconceito etário afeta as mulheres em todas as fases da vida
De “jovem demais” a “velha demais”, o que sobra é frustração — e muita invisibilidade

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Você já ouviu que uma mulher de 25 anos é “inexperiente demais” para liderar? Ou que, aos 50, ela está “ultrapassada”? Talvez já tenha escutado que, aos 40, suas “prioridades familiares” podem atrapalhar a carreira. Pois é: quando se trata de idade, parece que nunca há um timing certo para ser mulher.
Enquanto o mundo discute inclusão, diversidade e equidade, o etarismo segue como um dos preconceitos mais invisíveis, e mais normalizados. Quando se cruza com o gênero, os efeitos são ainda mais perversos. Mulheres são julgadas não só pelo que fazem, mas por quantos anos têm enquanto fazem. E os impactos vão da vida profissional à autoestima, passando pelas redes sociais, cultura pop e até pelos carnavais.
Etarismo e ageísmo: qual a diferença?
Ambos tratam de discriminação com base na idade. A diferença está no foco: ageísmo (do inglês ageism) refere-se, principalmente, ao preconceito contra pessoas mais velhas, geralmente com tom de desdém ou desvalorização. Já etarismo abrange atitudes discriminatórias contra qualquer faixa etária, inclusive contra os mais jovens.
Em um levantamento com líderes femininas de setores como direito, saúde e educação, publicado pela Harvard Business Review, a percepção é clara: homens envelhecem e viram “experientes”. Mulheres envelhecem e viram “difíceis”. Enquanto eles ganham autoridade com o tempo, elas perdem credibilidade.
Na outra ponta, mulheres jovens são chamadas de “mocinhas”, confundidas com estagiárias e têm suas ideias constantemente colocadas em dúvida. Especialmente se forem negras ou asiáticas, enfrentam o combo da subestimação + racialização da juventude.
- A advogada está “velha demais” pra começar de novo.
- A médica jovem é “boa demais pra ser verdade”.
- Ela é mãe, por isso está “emocionalmente instável”.
Cada fase da vida feminina carrega uma desculpa nova para não a levar a sério.
Da vida real às telas e redes
No Carnaval de 2025, Paolla Oliveira, com 41 anos, foi alvo de comentários etaristas e gordofóbicos ao aparecer como rainha de bateria. Apesar da forma física impecável e de mais de duas décadas de carreira, foi chamada de “fora de forma” e “envelhecida”. A cobrança estética, nesse caso, não era sobre beleza, era sobre caber no que esperam de uma mulher da sua idade.
Nas telas, o ressurgimento de Sex and the City reacendeu debates sobre o envelhecimento feminino na cultura pop. Embora a série não seja considerada feminista — por girar em torno de relacionamentos, padrões estéticos e uma bolha branca e elitista —, para sua época, foi crucial na desconstrução de certos arquétipos, ao colocar quatro mulheres acima dos 30 falando abertamente sobre sexo, ambição, envelhecimento e contradições.
Ainda, aproveitando o burburinho em torno das gravações de O Diabo Veste Prada 2, vale lembrar da personagem Miranda Priestly: uma mulher poderosa, bem-sucedida e, claro, solitária, fria e “difícil”. O recado é o de sempre: se a mulher subiu, “deve ter pisado em alguém”. Se é exigente, “é amarga”. Já os homens na mesma posição são retratados como líderes natos, gênios ou mentores.
Interseccionalidade: a idade pesa mais em certos corpos
A experiência com o etarismo muda conforme cor, classe, território e vivência. Mulheres negras, periféricas, indígenas ou trans enfrentam barreiras ainda mais densas. Muitas vezes, a exclusão não vem só pela idade, mas pela soma de preconceitos que se cruzam, uma lógica que remete ao conceito de interseccionalidade.
Mulheres tendem a acolher aquelas que vivem realidades parecidas. Mas o desafio está em olhar além do nosso grupo e entender que o preconceito etário não nos atravessa da mesma forma.
A sororidade, tão celebrada nos discursos feministas, precisa ser mais que um slogan. É preciso aplicá-la na prática: ouvindo, reconhecendo, respeitando. Porque a cobrança muda, mas nunca desaparece. Por isso, o caminho não está em “acertar o timing”, mas em valorizar trajetórias diversas, combater o preconceito institucional e — talvez o mais difícil — parar de repetir entre nós o que o sistema nos ensinou.
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