- O documentário *It’s Never Over*, lançado em 8 de agosto de 2025 pela Magnolia Pictures e dirigido por Amy Berg, retrata a vida do cantor Jeff Buckley.
- O filme combina filmagens antigas, desenhos animados e depoimentos de familiares, proporcionando uma visão mais profunda do artista.
- Jeff Buckley, que faleceu aos 30 anos, é conhecido por seu álbum *Grace*, lançado em 1994, que se tornou um marco na música mundial.
- Sua música mistura rock alternativo, folk rock e blues, abordando temas como amor e perda, com canções marcantes como *Lover, You Should’ve Come Over*.
- Apesar de sua morte precoce, o legado de Jeff Buckley permanece vivo, com sua música ainda sendo amplamente reconhecida e apreciada.
A melancolia é um sentimento usado para descrever uma tristeza mais profunda e vazia do que o comum. Na arte, é empregada como adjetivo para caracterizar algo ou uma obra mais reflexiva, depressiva e, muitas vezes, associada à morte ou à perda. Melancolia é o termo perfeito para definir *It’s Never Over*, documentário sobre Jeff Buckley, que aproxima ainda mais o público da vida do cantor, mas com uma melancolia capaz de emocionar.
Lançado em 8 de agosto de 2025 pela Magnolia Pictures e dirigido por Amy Berg, o documentário apresenta toda a vida do cantor americano, desde seu início em bares e conquistando a confiança do público, até sua prematura e fatídica morte, que, apesar de precoce, não impediu que seu legado musical atingisse o reconhecimento mundial com apenas um álbum de estúdio.
O filme combina diversas filmagens antigas e relatos do músico misturado com elementos visuais, como seus desenhos, agora animados e destacados por um neon amarelo esperançoso, além dos depoimentos de parentes próximos. Juntos, esses elementos tornam um filme que já tinha tudo para ser emocionante com as músicas de Jeff Buckley ainda mais tocante.
A melancolia é caracterizada pelo vazio e pela apatia e, ao contrário do filme, que provoca saudade mesmo em quem não era tão fã, esse termo não se aplica à carreira de Jeff. Por mais que grande parte de suas músicas carreguem uma tristeza intensa, elas surgem dos sentimentos mais profundos que um homem pode experienciar. Sua canção mais famosa, referenciada no título, *Lover, You Should’ve Come Over*, é o maior exemplo disso.
Jeff teve uma infância marcada principalmente por sua mãe, Mary Guibert, que cuidou dele praticamente sozinha, já que seu pai, o conhecido cantor folk Tim Buckley, não esteve presente e preferiu seguir a carreira após abandonar Mary ainda adolescente. De forma irônica, Jeff também seguiu o caminho da música, mas o que ele menos queria era viver à sombra do pai ou estar diretamente associado a ele. Seu objetivo era ser único, e ele conseguiu.
O documentário apresenta uma faceta de Jeff que quem apenas ouve suas músicas, ou não é um fã ferrenho, talvez desconheça. Um homem apaixonado pela beleza feminina, que fazia piadas e, em certos momentos, se mostrava brincalhão. Quem escuta suas canções fervorosas sobre amores perdidos, desejos e a vida, talvez nem imagine que a voz por trás dessas melodias rolava na rua com cães ao vê-los.
Quem vê seu rosto na capa de *Grace* ou na revista *People*, na lista das *”50 pessoas mais bonitas”* — que ele, por pura vergonha, chegou a comprar todas as edições nas bancas de jornal de seu bairro — não imagina que, na escola, era chamado de nerd e esquisito, e ainda sofria bullying por isso.
Sua vida amorosa também foi bastante evidenciada no longa, e revelou ainda mais seu lado simpático e carinhoso, como no início de sua carreira, com Rebecca Moore, atriz e musicista que foi essencial durante o lançamento de *Grace*. Seu último relacionamento foi com Joan Wasser, que havia pedido em casamento pouco antes de sua morte.
Os gêneros da música de Jeff transitam entre o rock alternativo dos anos 1990, o folk rock melancólico e muito blues, que realçam ainda mais o sentimento genuíno em suas canções. Quando perguntado sobre suas inspirações, Jeff foi direto e sincero: “*amor, raiva, depressão, felicidade e (Led) Zeppelin”*.
Após soltar sua voz em diversos bares, principalmente no *Sin-é*, que se tornou sua casa no início da carreira, e se juntar ao lado do produtor Andy Wallace, do baixista Mick Grøndahl e do baterista Matt Johnson, seu álbum de estúdio *Grace* foi lançado em 1994, com um reconhecimento tímido no começo, que depois se tornou um marco mundial.
Ele chegou a conquistar o reconhecimento de Jimmy Page, do Led Zeppelin — banda pela qual era apaixonado — que chamou o álbum de um de seus favoritos da década. O disco também foi listado entre os melhores da história pela *Rolling Stone*, *NME* e *Pitchfork*, além de atingir o status de platina ao redor do mundo todo.
*Grace* é um álbum romântico, seja no desejo por um amor que dificilmente é replicado por outro artista presente em *Lover, You Should’ve Come Over*, ou na angústia do esquecimento e na tristeza do fim, como em *Forget Her*. O instrumental, que transita entre folk rock e alternativo, intensifica ainda mais esses sentimentos, enquanto a voz de Jeff se mostra inigualável, sendo um dos pontos-chave de sua música, capaz de captar o sentimento de cada estrofe diretamente do coração e dançar por suas cordas vocais.
Seu legado no mundo da música foi enorme, e um exemplo vem através da icônica e dramática música do *Radiohead*, *Fake Plastic Trees*, que foi produzida logo após a banda assistir a um show de Jeff. Ele buscou preservar sua originalidade e paixão pela música até o fim, mesmo sob a pressão da gravadora Columbia, algo que pode ser percebido em uma de suas coletâneas, *My Sweetheart for the Drunk*, lançada postumamente.
Jeff faleceu aos 30 anos durante a ascensão de sua carreira, após se afogar no rio Wolf, no Mississippi. Antes mesmo de morrer, ele já sofria de visões de morte e problemas mentais que hoje seriam identificados como transtorno borderline. A morte de seu pai, um músico, que também se foi cedo, é dito por Joan Wasser como um dos motivos principais dessas visões e das falas ditas a ela sobre sua própria morte.
Mas suas músicas nunca foram esquecidas. Mesmo mais de 30 anos após o lançamento de seu álbum, ele continua sendo uma obra de arte no mundo da música. Em 2008, o cover de *Hallelujah* alcançou 1 bilhão de streams e chegou ao primeiro lugar no Top 200 da Billboard.
A melancolia é apática e vazia, e essa lacuna que Jeff deixou no mundo da música é uma cicatriz que talvez nunca vá se curar completamente. Mas uma das grandes certezas acerca de toda sua carreira, é que o barulho estridente da sua guitarra e sua voz angelical, vão perdurar para sempre enquanto a música existir.
“A música era minha mãe, era meu pai, era a melhor coisa da minha vida” – Jeff Buckley