- Tobias Sammet retornará ao Brasil para uma apresentação exclusiva do Avantasia no dia 29 de novembro, no Vibra São Paulo.
- A banda, referência no power metal, já se apresentou no Bangers Open Air este ano.
- O show faz parte da Here Be Dragons World Tour 2025 e foca no álbum Here Be Dragons, lançado em 2023.
- Tobias Sammet, que começou sua carreira em 1992 com o Edguy, destaca a relação especial com o público brasileiro, mencionando a recepção calorosa que sempre teve no país.
- Ele também comentou sobre seu processo criativo, enfatizando a liberdade que encontrou ao compor músicas individuais para o novo álbum.
Tobias Sammet retornará ao Brasil pela segunda vez este ano. Após se apresentar com o Avantasia*,* como headliner no Bangers Open Air, os alemães referência no power metal voltarão para uma apresentação exclusiva da banda no dia 29 de novembro, no Vibra São Paulo.
O Avantasia desembarca com um álbum lançado neste ano, *Here Be Dragons, que* será o foco do show. A apresentação faz parte da Here Be Dragons World Tour 2025. Esse é o 10º álbum do grupo, criado e liderado por Tobias, em 2001.
Mas a influência do cantor alemão no power metal é mais antiga, desde 1992, quando fazia parte do grupo Edguy, o primeiro da carreira e um dos principais do gênero.
O Portal Tela conversou com Tobias sobre o retorno ao Brasil e também sobre o lançamento do novo álbum.
*Portal Tela: O Avantasia visitou o Brasil várias vezes, incluindo este ano, e voltará em Novembro. Como você descreve o relacionamento com o público brasileiro?*
Tobias: É maravilhoso. A primeira vez que fui para um continente diferente foi em janeiro de 2002, com o **Edguy, para o Brasil. Foi a primeira vez que estive fora da Europa, e fui recebido de braços abertos, foi simplesmente fantástico. Desde então, eu voltei provavelmente…não sei…20 vezes? Não tenho ideia, 20, 25, 15 vezes…realmente não sei, mas foram muitas vezes. Em todas elas, fui recebido com carinho, e eu não esqueço disso. Claro, tenho amigos brasileiros, o pessoal do Angra, o pessoal do Shaman, o André Matos, que Deus o tenha, então, eu tenho uma relação muito especial com o Brasil. Eu amo a América Latina e amo o Brasil. Vocês também têm ótimos jogadores de futebol no Bayern de Munique! Lúcio, Giovane Élber, Sérgio Roberto, o Vini Jr., mas ele (Vini) nunca jogou no Bayern. Eu não acho que ele vai jogar no Real Madrid por muito mais tempo, mas isso é outra história. Enfim!
*Tela: E quando você vem para cá, o que mais gosta nos fãs brasileiros e na energia que o País transmite?*
Tobias: Barulhentos, malucos e adoráveis. Por exemplo, há muito tempo eu escrevi uma música durante um voo para o Brasil, ela se chamava “Lavatory Love Machine”, e isso aconteceu porque eu estava com um pouco de medo de voar, então escrevi uma música divertida sobre transar com uma comissária de bordo enquanto o avião caía, tipo: ‘Ok, você tem dois minutos restantes, tudo bem, isso vai funcionar’. Era uma música leve, divertida, e o pessoal no Brasil entendeu aquilo como uma declaração de amor ao país. Então, essas pequenas coisas sempre foram muito apreciadas.
Embora esse lado bem-humorado do Avantasia, especialmente do Edguy, e meu também, sempre tenha sido muito presente, isso caiu muito bem no Brasil. Não é coincidência que nós tenhamos gravado o show do *Hellfire Club* ao vivo no Brasil. Nós gravamos o DVD *Fucking With Fire* ao vivo no Brasil, e eu participei de um DVD do Shaman que também foi gravado ao vivo em São Paulo. É uma relação especial, é difícil de descrever. É como explicar por que você ama a sua namorada, eu não faço ideia, é simplesmente amor, nem sempre você consegue explicar com razão; simplesmente existe, e já são 25 anos desse caso de amor.
*Tela: Falando sobre o Avantasia agora, especialmente sobre o álbum mais recente, Here Be Dragons, qual foi a sua principal inspiração ao criá-lo?*
Tobias: Muitas inspirações, quero dizer, minha inspiração é sempre o que eu carrego em mim, as coisas que me preocupam, as coisas que me fazem feliz, as coisas que me fazem refletir, as coisas que me fazem imaginar, é uma autoterapia, eu coloco meus pensamentos para fora e simplesmente crio. Com *Here Be Dragons* eu encarei de um jeito diferente de todos os álbuns anteriores do Avantasia. Os álbuns anteriores tinham um conceito, e às vezes isso é ótimo, porque você tem algo ao qual se apegar, você escreve algo, uma história que pode explicar para alguém, e escreve como se fosse um filme. Mas, com este novo álbum, senti que era hora de escrever músicas individuais que, no conjunto, formassem algo muito coeso, como um livro de histórias com dez capítulos independentes, dez contos de fadas individuais, ou como você quiser chamar. Foi isso que eu fiz com o álbum.
Eu o encarei de uma forma um pouco mais livre, e acho que isso foi muito importante, porque eu tinha chegado a um ponto em que sentia que a ideia conceitual estava ficando estreita demais, e eu queria escrever canções individuais. Então, este álbum é conectado por um fio condutor comum: aventura e descoberta. Eu queria me lançar e escrever um álbum com dez músicas diferentes. Eu não tinha um plano, eu não tinha uma estratégia quando comecei a trabalhar no álbum, apenas a vontade de escrever um álbum aventureiro, sobre escapar da nossa vida cotidiana real. E é por isso que achei o termo *Here Be Dragons* tão bom para descrever tudo, porque “here be dragons” é um termo que era usado em antigos mapas marítimos para indicar territórios desconhecidos e possivelmente perigosos. Então pensei: é isso. Ser criativo, contar histórias, viver aventuras na sua cabeça com a sua música, é disso que se trata. Eu vou para onde podem existir dragões: sem limites, sem fronteiras, só o espírito da aventura. Vamos lá!
*Tela: Você mencionou que tem mais liberdade trabalhando com essas pequenas histórias. Você já se sentiu limitado em projetos anteriores, não só no Avantasia, mas em outras partes da sua carreira também?*
Tobias: Eu não acho que alguma vez tenha me sentido limitado. Eu fiz também os discos do Edguy e nunca me senti preso a um determinado tema ou a um determinado cenário sonoro. Musicalmente, em termos de escolhas criativas relacionadas à minha composição, eu nunca me senti realmente limitado, eu sempre fiz o que queria fazer; escrevi as músicas conforme elas vinham. Eu estou feliz com tudo o que fiz. Mas claro, quando você trabalha dentro de uma banda, você tem a limitação de serem cinco pessoas, e você tem a limitação de que eu só posso cantar como eu canto, o Jens só pode tocar como ele toca, o Dirk só pode tocar como ele toca, então você não pensa: ‘Ah, eu vou pegar um pouco disso e um pouco do Michael Kiske’. Você fica limitado ao que você tem como banda, o que também pode ser algo bom.
Mas sempre depende de quanto você permite que essa liberdade limite, porque nunca teve alguém atrás de mim com uma arma dizendo: ‘Ei, escreva um álbum conceitual chamado *The Scarecrow*’. Eu quis fazer isso naquela época e foi muito importante. Ele me deu um quadro para expressar os sentimentos que eu tinha naquele momento. Então foi um veículo perfeito para os meus pensamentos. Simplesmente tudo tem que acontecer no momento certo. Eu tinha chegado a um ponto, antes de *Here Be Dragons*, em que pensei: ‘Ok, o Avantasia precisa lançar um álbum conceitual. Mas e se eu quiser fazer algo diferente agora? Eu não posso? Ou isso vai virar um disco solo do Tobias Sammet?’. Não, eu quero fazer um disco do Avantasia, mas sem um conceito. E foi por isso que eu encarei o álbum desse jeito desta vez.
*Tela: Como você enxerga a cena atual do power metal hoje em dia?*
Tobias: Hoje em dia, eu não sei muito sobre o Power Metal, mas acho que o que eu conheço, e eu não quero soar desrespeitoso, mas muito disso é meio movido por números. Um pouco mais limitado, e um pouco repetitivo. Eu não vejo muita coisa nova, mas também não acho que estou na posição de julgar, sabe? Você pode me perguntar qualquer coisa sobre Ronnie James Dio, eu sou um cara velho. Tudo o que posso dizer é que hoje, se eu abro uma revista de metal e folheio, eu vejo todos esses lobos steampunk, piratas, vikings, soldados, cruzados, gladiadores e às vezes você pensa: ‘Que porra está acontecendo? Isso é carnaval, ou o quê? Isso é um baile de máscaras? Isso é um catálogo de fantasias para um live-action roleplay?’. Escrevam umas malditas músicas e não se preocupem em se vestir como um centurião ou um gladiador. É uma bobagem! Não façam isso! É ridículo! Parem! O tecladista do Spinal Tap é a única pessoa que está autorizada a usar um capacete viking ou saxão no palco. Mas essa é só a minha opinião, cada um escolhe o que quer fazer.
Quando eu entrei na cena, existiam o Stratovarius, Angra, Gamma Ray, Helloween, Blind Guardian, Grave Digger…essas bandas estavam soltas, dominando tudo. E tinha o Labyrinth, uma banda da Itália — banda muito boa — e era uma cena ótima e saudável. E o que eu gostava nela era o espírito positivo, a qualidade musical, aquelas melodias grandiosas, alguns elementos clássicos e neoclássicos combinados com o power (metal). Essa era a definição naquela época, e eu amava isso. Foi algo muito revigorante para mim quando, numa época em que o grunge estava em alta, em 1993, 1994, havia, você sabe, músicas como “Father Time”, ou mesmo antes disso, o álbum *Dreamspace*, e coisas como *Angels Cry*, do *Angra*. Aquilo foi uma bênção.
*Tela: Você estava falando sobre como, hoje em dia, muita música é movida por números. Depois de todo esse tempo fazendo música, de todas as mudanças na indústria musical e no mundo, o que continua te inspirando?*
Tobias: Eu não sei fazer mais nada, esse é o motivo número um. Eu seria péssimo como pedreiro (risos), é verdade! Mas o verdadeiro motivo é que eu gosto disso. Quero dizer, o mercado da música mudou completamente, e qualidade já não é algo tão necessário, porque tudo é consertado, tudo é montado, as pessoas fazem dublagem, as pessoas usam backing tracks, as pessoas têm IA escrevendo músicas, IA produzindo discos, IA remasterizando discos, virou uma bagunça. Mas a questão é: eu não vejo isso como um rival, essas possibilidades de IA e tudo mais. Sinceramente, eu gosto de fazer música. Eu realmente gosto, e gosto muito mais do processo de criar do que do reconhecimento ou da aprovação que eu talvez receba — ou talvez não receba — depois. Estou aqui olhando para uma enorme mesa de mixagem, com compressores, amplificadores, equalizadores e todas essas coisas… isso me excita, olhar para aqueles botõezinhos, girar eles, cantar minhas músicas e criar música. Eu realmente gosto de estar aqui nesta sala, ou na sala ali ao lado, no meu estúdio, criando música, juntando coisas, caçando melodias, colocando meus pensamentos para fora e me satisfazendo criativamente. Eu simplesmente amo isso.
Eu também dependo de vender minha música, para que a gravadora diga: ‘Ok, não foi uma merda. Você tem orçamento para fazer outro disco’. Isso é o meu seguro de vida. Eu não me vejo como um prestador de serviços. Eu não fico pensando: ‘O que o público vai achar disso? Isso vai resistir ao teste do tempo? Isso vai conseguir competir com “Reach Out for the Light”? Vai conseguir competir com **Battle Beast?’. Eu realmente não faço ideia, mas esse não é o ponto, sabe? Eles estão fazendo a música deles por eles mesmos. Eu citei o Battle Beast porque eu tenho muito respeito por eles — sem mal-entendidos aqui. Mas o que eu queria dizer é: eu não tento competir. O mundo é grande o suficiente para todos nós. E eu não fico pensando se as pessoas vão gostar ou não. Eu faço isso de coração, e faço pelos motivos certos.
*Tela: Agora que você está no décimo álbum do Avantasia com mais de 20 anos desde o início do projeto, qual foi a maior mudança no seu processo criativo e de composição musical ao longo desses anos?*
Tobias: Não acho que eu tenha mudado. É um processo contínuo, e acredito que minha abordagem nunca mudou de verdade. Claro, você se desenvolve, aprende coisas novas e fica melhor em certos aspectos. Mas minha maneira de trabalhar ainda é aquela abordagem inocente de tentar criar uma melodia que me mova, que mexa comigo, que venha de dentro e tenha impacto nas minhas emoções, algo que me permita colocar para fora meus pensamentos, como escrever uma carta que você não envia para ninguém, apenas para desabafar. Foi assim quando escrevi *The Metal Opera*, *Vain Glory Opera*, *Hellfire Club*, *The Scarecrow* e *Here Be Dragons*, sempre segui esse mesmo caminho.
Agora, a maior mudança para mim, eu diria, é ter um ambiente profissional de gravação. Um lugar onde posso registrar minhas próprias demos de forma profissional e capturar ideias no momento em que elas surgem. Isso torna todo o processo muito mais imediato. E quando você tem um estúdio profissional — não apenas um estúdio caseiro — a qualidade não sofre. A mixagem ainda é feita pelo Sascha, no estúdio dele, que também é profissional, mas no que diz respeito à composição, criação de demos e gravação, eu tenho o melhor equipamento e uma sala com ótima acústica. Meu estúdio foi construído por uma empresa especializada, uma das mais prestigiadas da Europa. É um espaço pequeno, mas extremamente profissional, e posso usá-lo 24 horas por dia. Posso colocar minhas meias, descer as escadas de madrugada e começar a trabalhar assim que surge uma ideia. E isso é uma benção!