- A educação de meninas no Afeganistão enfrenta severas restrições desde a ascensão do Talibã ao poder.
- Meninas estão se matriculando em madrassas, escolas religiosas, devido ao fechamento das escolas regulares.
- A proibição de acesso a escolas secundárias e universidades para meninas já dura três anos e é única no mundo.
- Mais de um milhão de alunas se matricularam em madrassas no último ano, totalizando mais de três milhões em todo o país.
- A UNICEF alerta que, se a situação não mudar, mais de quatro milhões de meninas estarão sem acesso à educação até dois mil e trinta.
KABUL, Afeganistão — Desde que o Talibã assumiu o poder, a educação de meninas no país enfrenta severas restrições. Meninas como Nahideh, de 13 anos, estão se matriculando em madrassas, escolas religiosas, já que as instituições de ensino regulares permanecem fechadas. Com o sonho de se tornar médica, Nahideh se vê obrigada a mudar seus planos. “Se eu pudesse ir à escola, poderia aprender e me tornar médica. Mas não posso”, lamenta.
A proibição do acesso a escolas secundárias e universidades para meninas, vigente há três anos, é a única do tipo no mundo. Essa situação levou muitas jovens a buscar alternativas nas madrassas, onde o ensino do Alcorão e de ciências islâmicas é permitido. Cerca de 90% dos alunos em algumas madrassas são mulheres, refletindo um aumento significativo na procura por essas instituições.
Zahid-ur-Rehman Sahibi, diretor do Tasnim Nasrat Islamic Sciences Educational Center em Kabul, afirma que a busca por educação religiosa cresceu desde o fechamento das escolas. “As meninas veem isso como uma oportunidade para continuar aprendendo”, explica. No último ano, mais de 1 milhão de alunos se matricularam em madrassas, totalizando mais de 3 milhões em todo o país.
O papel das madrassas
As madrassas oferecem um espaço onde as meninas podem estudar, embora o currículo seja limitado. Estudantes aprendem sobre o Alcorão, jurisprudência islâmica e árabe, mas não têm acesso a disciplinas como matemática ou ciências. Faiza, uma aluna de 25 anos, expressa sua frustração: “Se tivesse a chance, gostaria de estudar medicina, mas agora meu foco é aprender sobre o Alcorão”.
A proibição da educação feminina gerou controvérsias até mesmo dentro do Talibã. O vice-ministro das Relações Exteriores, Sher Abbas Stanikzai, questionou publicamente a justificativa para a restrição, mas suas declarações não foram bem recebidas pela liderança do grupo. A UNICEF alerta que, se a situação persistir, mais de 4 milhões de meninas estarão sem acesso à educação até 2030, o que terá consequências devastadoras para o futuro do Afeganistão.
Consequências da falta de educação
A falta de educação para meninas impacta não apenas suas vidas, mas também a saúde e a economia do país. Mullah Mohammed Jan Mukhtar, que dirige uma madrassa para meninos, destaca a importância do conhecimento religioso como base para outras áreas de estudo. “Aprender o Alcorão é fundamental para entender melhor outras ciências”, afirma.
Enquanto as madrassas se tornam a única opção viável para muitas meninas, o futuro da educação feminina no Afeganistão permanece incerto. A luta por direitos educacionais continua, mas as barreiras impostas pelo regime atual dificultam o acesso a um futuro mais promissor.