- Michel Alcoforado, antropólogo, lançou o livro “Coisa de Rico”, que já vendeu mais de 10 mil exemplares em um mês.
- A obra, resultado de sua pesquisa de doutorado na University of British Columbia, foi publicada em agosto de 2025.
- Alcoforado afirma que os ricos no Brasil não se reconhecem como tal e muitos compram o livro para entender sua própria riqueza.
- Durante sua pesquisa, ele enfrentou desafios para ser aceito nas festas e propriedades de alto padrão, utilizando estratégias como name-dropping.
- O autor observa que as elites não veem sua responsabilidade na desigualdade social, acreditando que o Estado deve resolver o problema.
Michel Alcoforado, antropólogo que dedicou 15 anos ao estudo das elites brasileiras, lançou o livro “Coisa de Rico”, que já vendeu mais de 10 mil exemplares em um mês. A obra, publicada em agosto de 2025, resulta de sua pesquisa de doutorado na University of British Columbia, no Canadá.
O autor revela que nenhum rico se reconhece como tal no Brasil. Muitos compram o livro para entender sua própria riqueza, enquanto outros buscam aparentar um status que não possuem. Para se infiltrar no mundo dos endinheirados, Alcoforado criou uma falsa secretária e enfrentou desafios como silêncios hierárquicos e duelos de cifras.
Desafios da Infiltração
Durante sua pesquisa, Alcoforado passou por testes de reconhecimento que o ajudaram a ser aceito nas festas e propriedades de alto padrão. Ele explica que, no Brasil, os traços de distinção social são mais frágeis do que em outras culturas. O autor destaca que os ricos utilizam estratégias como o name-dropping e a medição de poder aquisitivo para avaliar quem vale a pena conhecer.
Uma das principais reflexões de “Coisa de Rico” é que as elites não se veem como parte do problema da desigualdade social. Alcoforado afirma que eles acreditam que essa questão deve ser resolvida pelo Estado, sem reconhecer sua própria participação. Apesar disso, ele observa que os multimilionários têm plena consciência do abismo social existente no país.
Reflexões sobre a Elite
Alcoforado também nota que, em termos políticos, há uma predominância de alinhamento à centro-direita entre as elites, embora existam também ricos de centro-esquerda. Ele ressalta que, independentemente da posição política, há uma preocupação social desde que as distâncias entre as classes não mudem.
O autor alterou os nomes das figuras retratadas em seu livro e não teme represálias. Ele comenta que, ao informar seus interlocutores sobre o lançamento da obra, muitos riam, afirmando que “rico é muito engraçado”. Para eles, a riqueza é sempre associada a outra pessoa, não a si mesmos. Alcoforado conclui que, embora tenha iniciado sua pesquisa espantado, saiu com um sentimento de pena, reconhecendo o esforço necessário para manter-se nesse mundo.