- Um estudo brasileiro com 1.917 crianças não encontrou relação entre a capacidade de adiar gratificação e desfechos de vida.
- A pesquisa foi realizada pelo CoLAB da PUC-Rio, em parceria com a UFRGS e a USP, e publicada na revista Journal of Child Psychology and Psychiatry Advances.
- Os pesquisadores utilizaram a Choice Delay Task para medir a preferência por recompensas imediatas ou tardias.
- Os resultados mostraram que não houve associação entre esperar por recompensas e variáveis como notas escolares ou problemas emocionais.
- O estudo sugere que fatores sociais e estruturais podem ser mais importantes para o sucesso na vida do que a habilidade de adiar gratificação.
O famoso experimento do marshmallow, realizado na década de 1970, avaliou a capacidade de crianças em adiar gratificação, associando essa habilidade a futuros sucessos. No entanto, um estudo brasileiro recente, envolvendo 1.917 crianças, desafia essa noção, indicando que não há relação entre a capacidade de esperar por recompensas e desfechos de vida.
Pesquisadores do CoLAB, da PUC-Rio, em parceria com universidades como a UFRGS e a USP, publicaram suas descobertas na revista *Journal of Child Psychology and Psychiatry Advances*. Utilizando dados de uma coorte brasileira de alto risco para transtornos mentais, o estudo analisou o desempenho das crianças na Choice Delay Task, que mede a preferência por recompensas imediatas ou tardias.
Os resultados foram surpreendentes: nenhuma associação foi encontrada entre a escolha por recompensas tardias e variáveis como notas escolares, consumo de álcool ou problemas emocionais. Além disso, crianças com TDAH apresentaram comportamento semelhante ao das demais, desafiando a ideia de que menos impulsividade garante sucesso na vida.
Contextos Culturais
Esses achados levantam questões sobre a validade de testes de autocontrole em diferentes contextos culturais. Em estudos anteriores, como o realizado com crianças descendentes dos maias, o teste do marshmallow não se comportou como esperado, com muitas crianças optando por sair da sala em vez de esperar. Isso sugere que a capacidade de adiar gratificação pode ser influenciada por fatores culturais e socioeconômicos.
A pesquisa original do marshmallow, que acompanhou apenas 35 crianças da creche de Stanford, também levanta dúvidas sobre a representatividade das amostras em estudos de autocontrole. A preferência por recompensas imediatas pode refletir experiências de vida, como escassez e insegurança, mais do que uma simples medida de autocontrole.
Implicações para o Futuro
Os resultados do estudo brasileiro indicam que fatores sociais e estruturais, como acesso à educação e apoio familiar, podem ser mais determinantes para o sucesso na vida do que a capacidade de esperar por um doce. Essa nova perspectiva convida a uma reflexão sobre a importância de considerar o contexto cultural e socioeconômico ao avaliar o comportamento infantil e suas implicações futuras.