- Descoberta de vestígios humanos em ninhos de quebrantahuesos na Andaluzia, datados do fim do século XIII ao início do XIV; entre os itens, uma sandália de fibra vegetal com 674 anos, além de cestos, couro pintado e uma flecha de balestra.
- Pesquisa realizada entre dois mil e oito e dois mil e quatorze em doze ninhos, resultando na recuperação de dois mil quatrocentos e oitenta e três fragmentos, dos quais duzentos e vinte e seis eram objetos humanos.
- Estudo publicado na revista Ecology e conduzido por Sergio Couto, da Universidad de Granada, aponta que os ninhos funcionam como museus naturais, preservando memória ecológica e cultural da Península Ibérica.
- As evidências permitem registros estratificados para estudar mudanças no ambiente e na cultura locais, além de fragmentos de casca de ovo úteis para estudos toxicológicos sobre exposição a pesticidas.
- Conclusão aponta implicações para conservação: entender habitats ideais para futuras reintroduções, numa espécie em perigo crítico com trezentos e nove casais reprodutores na Europa, sendo cento e sessenta e dois na Espanha.
Quando o biólogo e arqueólogo Sergio Couto, da Universidad de Granada, iniciou a busca por ninhos de quebrantahuesos, não esperava encontrar vestígios humanos com mais de seis séculos. O estudo, publicado na revista *Ecology*, revela que esses ninhos funcionam como verdadeiros museus naturais, preservando fragmentos da história ecológica e cultural da Península Ibérica.
Entre os itens recuperados, destacam-se uma sandália de fibra vegetal com 674 anos, cestos, couro pintado e uma flecha de balestra, todos datados entre o final do século 13 e início do século 14. A pesquisa, realizada entre 2008 e 2014, analisou 12 ninhos em cavernas da Andaluzia, resultando na recuperação de 2.483 fragmentos, dos quais 226 eram objetos humanos.
Descobertas e Implicações
Os pesquisadores notaram que os ninhos acumulam não apenas ossos, mas também materiais de origem humana, utilizados na construção e forragem dos ninhos. Isso permite a criação de registros estratificados, que ajudam a estudar as mudanças no ambiente e na cultura local ao longo dos séculos. Os fragmentos de casca de ovo encontrados são valiosos para estudos toxicológicos, permitindo análises comparativas sobre a exposição a pesticidas.
Além disso, a pesquisa destaca que os objetos de fibra vegetal, como sandálias e cestos, são similares aos encontrados em sítios neolíticos do Mediterrâneo, evidenciando uma longa tradição de uso desse material na região. Os autores do estudo afirmam que esses ninhos se tornam testemunhos de como práticas humanas e ecossistemas evoluíram juntos.
Conservação e Futuro
Essas descobertas possuem implicações práticas para a conservação da espécie. Ao estudar a localização e a composição dos ninhos históricos, os cientistas obtêm informações sobre os habitats ideais para futuras reintroduções do quebrantahuesos, que atualmente está em perigo crítico, com apenas 309 casais reprodutores na Europa, sendo 162 na Espanha. A pesquisa não só enriquece o conhecimento histórico, mas também oferece um caminho para a preservação da biodiversidade local.