- O Brasil enfrenta um cenário fiscal complicado, com déficits gêmeos semelhantes à crise do segundo mandato de Dilma Rousseff.
- O déficit nominal do governo central é de 7,12% do PIB e o déficit em conta corrente subiu para 3,5% do PIB.
- Especialistas alertam para a necessidade de reformas estruturais em 2027.
- A dívida pública já representa 77,5% do PIB, e os gastos com juros do setor público se aproximam de R$ 1 trilhão.
- O investimento público caiu de 5% do PIB para menos de 2% nas últimas décadas, enquanto os gastos estatais aumentaram de 25% para 34% do PIB.
O Brasil enfrenta um cenário fiscal e econômico desafiador, com déficits gêmeos que se assemelham à crise do segundo mandato de Dilma Rousseff. A um ano das eleições de 2026, o déficit nominal do governo central chega a 7,12% do PIB, enquanto o déficit em conta corrente atinge 3,5% do PIB. Especialistas alertam para a urgência de reformas estruturais em 2027.
Os déficits gêmeos ocorrem quando um país apresenta déficits simultâneos nas contas fiscais e externas. A deterioração atual é atribuída a um desequilíbrio econômico, exacerbado por gastos públicos excessivos nos últimos anos. A taxa Selic, atualmente em 15% ao ano, tem elevado os juros pagos para rolar a dívida pública, que já representa 77,5% do PIB.
Nos últimos 12 meses, os gastos com juros do setor público se aproximaram de R$ 1 trilhão, contribuindo para um déficit nominal que deve encerrar o ano em 8,5% do PIB. O déficit em conta corrente, por sua vez, aumentou de 1,4% para 3,5% do PIB, refletindo um saldo comercial abaixo do esperado e o crescimento das saídas líquidas de serviços.
A incapacidade de gerar superávits primários recorrentes agrava a situação. Samuel Pessôa, do Ibre-FGV, observa que, apesar de o déficit atual ser mais realista, o Brasil não deveria enfrentar tal situação, dado seu potencial econômico. Ele prevê um alívio temporário, mas destaca que o problema estrutural persistirá.
Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, aponta que os déficits gêmeos pressionam os juros e reduzem os investimentos privados. O investimento público caiu de 5% do PIB para menos de 2% nas últimas décadas, enquanto os gastos estatais aumentaram de 25% para 34% do PIB.
Marcus Pestana, da Instituição Fiscal Independente, classifica a taxa de investimento no Brasil como “ridícula”, comparando-a a 35% em países asiáticos. A questão fiscal é vista como o principal desafio, com um aumento acelerado do endividamento público. Livio Ribeiro, da consultoria BRCG, concorda que o desequilíbrio fiscal é estrutural e de longo prazo, sem soluções claras à vista.