- O Brasil enfrenta cortes forçados na geração de energia solar e eólica, impostos pelo Operador Nacional do Sistema (ONS).
- Em 2024, os cortes chegaram a 18,5% da geração total, resultando em prejuízos financeiros de R$ 6,6 bilhões.
- As perdas financeiras aumentaram 36% em relação ao ano anterior, com 4,3 mil GWh de energia não gerada.
- Usinas solares com menos de um ano de operação enfrentam cortes de até 70%, comprometendo a viabilidade financeira das empresas.
- O governo e o Congresso discutem soluções, como a expansão de linhas de transmissão e leilões de armazenamento de energia, mas as medidas ainda estão em fase de debate.
O Brasil enfrenta um dilema no setor de energia renovável, com o Operador Nacional do Sistema (ONS) impondo cortes forçados na geração de energia solar e eólica. Esses cortes, conhecidos como curtailments, são uma resposta ao excesso de oferta que supera a demanda, colocando em risco a estabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN). Em 2024, os cortes chegaram a 18,5% da geração total dessas fontes, resultando em prejuízos financeiros que já somam R$ 6,6 bilhões.
Os dados da consultoria Volt Robotics revelam que, até setembro, as perdas financeiras aumentaram 36% em relação ao ano anterior, com 4,3 mil GWh de energia deixados de ser gerados. Em agosto, os cortes atingiram 26,4% da geração de energia renovável, um aumento de 85% em comparação ao mesmo mês de 2024. As associações do setor, como a Absolar e a Abeeólica, alertam que a situação se agravou, levando empresas a suspender investimentos e renegociar financiamentos.
Impacto no Setor
Os cortes têm um impacto direto no caixa das geradoras. Rodrigo Sauaia, presidente da Abeeólica, destaca que usinas solares com menos de um ano de operação enfrentam cortes de até 70% de sua geração. Isso compromete contratos com clientes e fornecedores, além de afetar a viabilidade financeira das empresas. Fábio Bortoluzo, da Atlas, estima que R$ 30 bilhões em novos projetos podem não ser viabilizados.
A situação é ainda mais crítica em estados como Minas Gerais, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco, onde os cortes são mais frequentes. Especialistas preveem que os curtailments continuarão a aumentar até 2035, criando um ambiente de incerteza que pode inviabilizar a expansão das energias renováveis no país.
Desafios e Soluções
O ONS justifica os cortes como uma medida necessária para evitar sobrecargas no sistema, especialmente após o apagão de agosto de 2023. No entanto, a falta de flexibilidade do sistema elétrico e a ausência de soluções eficazes para a gestão da geração distribuída complicam ainda mais a situação. O aumento da microgeração, com placas solares em residências, contribui para o desequilíbrio, pois o ONS não controla essa injeção de energia.
A pressão por soluções já chegou ao governo e ao Congresso, com propostas que incluem a expansão de linhas de transmissão e leilões de armazenamento de energia. O Ministério de Minas e Energia (MME) criou um grupo de trabalho para abordar o tema, mas as medidas ainda estão em fase de discussão. A expectativa é que novas regulamentações possam mitigar os impactos dos cortes, mas o caminho para a solução ainda é incerto.