- Em 2015, a Alemanha abriu suas fronteiras para refugiados, principalmente da Síria e do Afeganistão, em resposta a uma crise humanitária.
- A decisão da então chanceler Angela Merkel, que se tornou emblemática, agora é vista de forma diferente após quase uma década.
- A ascensão da extrema direita e do partido Alternativa para Alemanha (AfD) reflete um aumento na rejeição a estrangeiros, apesar de dois terços dos refugiados estarem empregados.
- A nova administração, liderada pelo primeiro-ministro Friedrich Merz, adotou uma postura mais restritiva, aceitando apenas 61 mil refugiados até junho de 2023, em comparação com 195 mil no ano anterior.
- A integração dos imigrantes apresenta desafios, como problemas no mercado imobiliário e na educação, mas a imigração não é a principal preocupação dos eleitores, com cerca de 70% da população considerando-a necessária.
A mudança na percepção da imigração na Alemanha: uma década após a crise de 2015
Em 2015, a Alemanha se tornou um símbolo de acolhimento ao abrir suas fronteiras para centenas de milhares de refugiados, principalmente da Síria e do Afeganistão. A decisão da então chanceler Angela Merkel foi impulsionada por uma crise humanitária, marcada por conflitos e tragédias no Mediterrâneo. Merkel afirmou: “Wir schaffen das” (“Vamos conseguir”), uma frase que se tornou emblemática, mas que agora ressoa de maneira diferente.
Após quase dez anos, a percepção sobre a imigração na Alemanha mudou drasticamente. A ascensão da extrema direita e o fortalecimento do partido Alternativa para Alemanha (AfD) refletem um aumento na rejeição a estrangeiros, apesar de a maioria dos imigrantes ter se integrado ao mercado de trabalho. Dados indicam que dois terços dos refugiados que chegaram em 2015 e 2016 estão empregados atualmente.
A nova administração, liderada pelo primeiro-ministro Friedrich Merz, tem adotado uma postura mais restritiva em relação à imigração. Em 2023, apenas 61 mil refugiados foram aceitos até junho, uma queda significativa em comparação aos 195 mil do ano anterior. Essa mudança de política contrasta com o acolhimento de mais de um milhão de imigrantes entre 2015 e 2016.
A integração e seus desafios
Embora a integração tenha avançado, problemas estruturais persistem. A socióloga Judith Kohlenberger destaca que a chegada de refugiados expôs questões pré-existentes no mercado imobiliário e na educação. A criminalidade associada a imigrantes continua a ser um tema polêmico, mas pesquisas mostram que a imigração não é vista como a principal preocupação dos eleitores.
A narrativa política atual tem se concentrado em problemas econômicos e na insatisfação com o governo, enquanto a imigração, embora controversa, não é o principal motor da popularidade da AfD. Pesquisas indicam que cerca de 70% da população acredita que a imigração é necessária, refletindo uma ambivalência em relação ao tema.
O legado de Merkel e o futuro da imigração
Merkel reconheceu que sua decisão de abrir as fronteiras contribuiu para o fortalecimento da extrema direita, mas defendeu que foi uma escolha humanitária e constitucional. A Alemanha, que outrora era vista como um modelo de acolhimento, agora enfrenta um dilema sobre como equilibrar segurança e compaixão. O futuro da imigração no país dependerá de como as políticas e a opinião pública evoluirão nos próximos anos.