- Coral infantil na Catedral Nacional da Salvação do Povo, em Bucareste, entoou a melodia associada a Radu Gyr durante o Dia do Clero Militar, gerando críticas sobre legado fascista e reacendendo debates sobre a memória da Shoah na Romênia.
- Canção chamada “Avem o țara” (Temos um país) foi interpretada por crianças; a imprensa a classificou como fascista, lembrando que Gyr foi colaborador do regime de Ion Antonescu, responsável por crimes de guerra e pela perseguição a judeus e ciganos.
- A Igreja Ortodoxa Rumana disse que a canção foi atribuída inadequadamente a Gyr e que não promove doutrinas totalitárias; informou que a versão foi adaptada por monjas para transmitir mensagem patriótica e religiosa.
- O diretor do Instituto Nacional para o Estudo do Holocausto, Alexandru Florian, expressou preocupação com a situação, destacando que usar um hino de um militante fascista em uma nova catedral nacional é um sinal de propaganda extremista.
- A catedral custou cerca de € 270 milhões, com a maior parte do financiamento vindo do estado; o debate ocorre num contexto de resistência histórica ao Holocausto, com entre duzentos e oitenta mil e trezentos e oitenta mil judeus mortos durante o regime, e onze mil ciganos.
A recente apresentação de um coral infantil na Catedral Nacional da Salvação do Povo, em Bucareste, gerou controvérsias ao entoar uma melodia associada a Radu Gyr, um poeta ligado ao regime fascista de Ion Antonescu. O evento, realizado durante o Dia do Clero Militar, provocou uma onda de críticas e reacendeu debates sobre a memória histórica da Romênia em relação ao Holocausto.
A canção, intitulada “Avem o țara” (Temos um país), foi interpretada por crianças na catedral, considerada a maior igreja ortodoxa do mundo. Vários meios de comunicação rapidamente rotularam a composição como “fascista”, lembrando que Gyr foi um colaborador do governo de Antonescu, responsável por crimes de guerra e pela perseguição de judeus e ciganos durante a Segunda Guerra Mundial.
Reação da Igreja Ortodoxa
A Igreja Ortodoxa Rumana se viu obrigada a responder às críticas. Em comunicado, afirmou que a canção foi erroneamente atribuída a Gyr e que não promove doutrinas totalitárias. O Patriarcado destacou que a versão apresentada foi adaptada por monjas de um mosteiro e que o objetivo era transmitir uma mensagem patriótica e religiosa.
Alexandru Florian, diretor do Instituto Nacional para o Estudo do Holocausto, expressou sua preocupação com a situação. Ele destacou que a interpretação de um hino de um destacado militante fascista em uma nova catedral nacional é um sinal alarmante de propaganda extremista. A catedral, que custou cerca de 270 milhões de euros, recebeu a maior parte de seu financiamento do estado romeno, gerando polêmica sobre o uso de recursos públicos.
Contexto Histórico
A Romênia possui um histórico complexo em relação ao Holocausto, com muitos ainda considerando Antonescu um herói nacional. Durante seu regime, entre 280.000 e 380.000 judeus e 11.000 ciganos foram mortos. O estudo do Holocausto nas escolas romenas é recente, e apenas um em cada dez romenos conhece o papel do país nesse período.
O crescimento de partidos ultradireitistas, como o AUR, que nega a gravidade da participação romena na Shoah, também contribui para a polarização do debate. A influência da Igreja Ortodoxa, que ainda é uma das instituições mais respeitadas no país, pode ser um fator que dificulta a aceitação de uma narrativa histórica mais crítica e abrangente.