18 de ago 2025
Mudanças climáticas ameaçam abastecimento de água nos reservatórios subterrâneos do Brasil
Estudo alerta para queda de até 666 mm na recarga de aquíferos brasileiros, afetando o abastecimento de milhões até 2100

Afloramento do aquífero Guarani na gruta Itambé, em Altinópolis (SP) (Foto: Jonathan Wilkins/Wikimedia Commons)
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A crise climática global representa uma séria ameaça à recarga dos aquíferos brasileiros, com uma possível redução de até 666 mm por ano em algumas regiões, como Sudeste e Sul. Essa conclusão é parte de um estudo realizado por cientistas do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc-USP) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), publicado na revista Environmental Monitoring and Assessment.
Os aquíferos, que armazenam água subterrânea, são essenciais para o abastecimento de 112 milhões de brasileiros, ou seja, 56% da população. O estudo utilizou um modelo de balanço hídrico e dados do Coupled Model Intercomparison Project Phase 6 (CMIP6) para prever as alterações na temperatura, precipitação e recarga de aquíferos até 2100. Os pesquisadores analisaram dois cenários de emissões de gases de efeito estufa, um moderado e outro pessimista.
Impactos Regionais
Os resultados indicam que o Brasil enfrentará um aumento de temperatura entre 1,02 °C e 3,66 °C ao longo do século. A distribuição das chuvas se tornará ainda mais desigual, com a região Norte e parte do litoral Leste apresentando queda na precipitação média anual. Em contrapartida, o Sul e partes do Nordeste podem ter aumentos pontuais. Ricardo Hirata, professor do IGc-USP, destaca que mesmo onde a quantidade total de chuvas não mudará, haverá uma alteração no regime, com verões mais chuvosos e períodos secos mais prolongados.
A recarga dos aquíferos pode ser severamente afetada, especialmente no Sistema Aquífero Bauru-Caiuá, que deve sofrer uma redução de 27,94% no volume recarregado. Outros aquíferos importantes, como o Guarani e o Furnas, também enfrentarão perdas significativas. Apesar da importância das águas subterrâneas, a questão tem sido negligenciada nas políticas públicas.
Propostas de Solução
O estudo sugere a implementação de recarga manejada de aquíferos (MAR), que utiliza técnicas para aumentar a infiltração de água de chuva ou de esgoto tratado. Essa abordagem pode incluir desde bacias de infiltração até sistemas de injeção direta no aquífero, como já ocorre em Madri, na Espanha. Hirata observa que, em grandes cidades como São Paulo, parte da recarga subterrânea já acontece de forma involuntária, devido a vazamentos nas redes de água e esgoto.
Com cerca de 3 milhões de poços tubulares e 2 milhões de poços escavados no Brasil, a extração de água subterrânea é significativa, com 80% a 90% destinada ao uso privado. Durante a crise hídrica de 2014-2016, cidades que dependiam de água subterrânea foram menos afetadas. O estudo, apoiado pela Fapesp, também ressalta a necessidade de integrar a gestão das águas subterrâneas nas discussões sobre mudanças climáticas.
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